epistemicídios

    
Ocupações. [Ou Na legitimidade de falar.] Vista-alta de quando a gente vai chegando em Porto Rico. Abril de 2019. Acervo pessoal.



a cultura a imaginação a criatividade
têm tanto poder para emancipar a gente
que são muito-muito-muito disputadas até hoje
por aquela espécie de gente-engolidora-de-gente
vivendo do privilégio do grito

pessoas em situação de poder
mínimo ou eloquentíssimo (apenas) privilegiadas
que se fizeram no curso da história do mundo
pela colonialidade (de um só saber delas próprio
nas costas da matança das imaginaturas da gente)...

essas pessoas não admitem (nunca admitirão)
sua ridícula participação em tudo
como nunca suportarão a ideia de ideias como as nossas
o nosso choro que lava a água suja delas-de-lá
tentando sempre deter nossa escorrença de rio

(não conseguem) e é que gente-assim como a gente
subalternizada de nascença
"só mais uma gente-sem"
(salivam as pessoas-que-engolem)
ah a gente é na verdade de fronteira

se esborracha mil-vezes-mil
tantas mais e come
incontáveis-madrugadas menos
de comida que esquenta para dormir
mas não adianta (as gentes-engolidoras não conseguem)

essas pessoas engolem mesmo
é só isso que conseguem manter
sistematizado de há muito
(em criatividade bonachona
que chega até ser bem-bronca):

e os seus mecanismos potentíssimos de
superexaltação de si mesmas?
pôxa, como gostam de se olhar nos seus
espelhos empoeirados e horrorosas
imagens delas... como são!

e a criatividade delas, pouca-pouquinha
e a imaginação, já ralentíssima
roçagando visivelmente dissimuladas
(e ignóbeis, risíveis, ultrajantes)
e o que é bem-mais-constragedor para essas pessoas:

surgem com uma tal-quantidade que rasteja muito
porque falta primeiramente tudo: dedicação
estudo, sensibilidade-transveredadora, afeto
escrita, vivência, trabalho-duro enfins
que não fazem

como ousam então
reivindicar
só para si
algo tão em-luta?
(como ousam?)

se podem massacrar a gente (com
meias verdades palavras distorcidas
confusões negações aquela solércia
que só pessoas engolidoras-de-gente mesmo
têm coragem de empostar) pois-assim farão

sem qualquer arrependimento
não carregam
sequer-nenhuma rebeldia
(que vergonha!) e assim
sem nenhum pudor (como ousam?)

a dor e a tolice
é preciso transver:
este não é da gente um enfrentamento
de dias ou meses
mas a pancada de uma vida inteira

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