Vou
dizer de você assim tentando nem-tanto encabular. Sem pontos e sem etiqueta,
pouco-ou-bastante sentido e sem-lá muita precisão, porque aí te deixo pensando:
“Afinal, eu de quem você...?”
Cismo
que você tem olhos que enxergam entredistâncias. E te ponho a encafifar justo
aquilo que não te cabe: que olhar meu para você te pretende quietinha,
sem aquela liberdade de lançar-se rua, ou para desacolher aquiescências.
Nã-nã. Porque nem hora nem outra vou te tolher saída para o universar-as-coisas, nem-se um desses voos cismar de ser em céu amarelo de onde a
gente passa a enxergar miúdas as pessoas-todas daqui de baixo.
Dizendo
ainda pouco de você para não te definir vaziez, boca que te torneio é feita
de algodão doce; sim, de algodão doce. Que é para a gente ter vontade de provar na constatação de
que, de certo, é muito gostosa. Mas é essa mesma boca contornada de sem fim de
desejos provocando-tantos-outros-na-gente que vai, dia desses, recusar. Como pessoa estranhamente humana, à imagem e medida de como é todo mundo, você vai também escarnecer, tropegar, residuar. Por outro lado, tanto-mais-facilmente-ainda,
te insisto como voz enternecente, talvez. Aliás, pensando bem, eis uma boca, a sua, que, mesmo fraturas de tempo que assim-somos,
natural que ela, a boca, sua, ponha nas pessoas anunciações descondizentes, ou desvarios
desenganando o que de mais suave eu, ou alguém-outra, cogitaria te dar. Inconclusas-dissonantes
que somos, bocas e pessoas, isso é sempre bem-provável-que.
O
nariz vai servindo para você escolher um gosto que te faça apetecerem sorrisos
ou gestos de aproximação. Queixo seu que combinará (com) delicadezas abrindo
ruiídos apetecentes, mesmo em asfalto pisoteado de amargura ou nauseabundos transitares. Ouvidos que te
escutarão chorando de contentamento ou desfelicidades e que também te darão
tino para que outros te perturbem, te encantem ou simplesmente te deixem algo
indiferente para qualquer lamentação.
Com
amontoado de areia colorida mandada buscar lá em pé de montanha de onde a gente
vê curso de água seguindo manso, vou te fazendo contornos para baixo do
pescoço. E, num zás, sinto ficando tudo divertido, em muitas deliciúras, porque
algumas partes de você eu vejo que acentuo de propósito e faço elas quase todas
bem circulares, que é isso para dar vontade de ficar olhando muito e deixando a
imaginação da gente correr sem amarras quando, porventura, for ficcionar mão no
contato com algumas dessas partes!
Mãos,
eu as projeto nem muito grandes nem pequenas demais. Queria muito que elas
nunca precisassem cometer crime nenhum. Nem jamais fossem usadas para
encalacrar-ultrajando ninguém, mesmo que em certa ocasião você vá ter algum
impulso, lógico, impetuosas que somos todas as pessoas mesmo, para dar tapa merecido em alguém qualquer
que te tire do sério. Mãos suas, eu as queria — ah, eu queria... Desatinando
sem fim de: carinhos em mim, “mas nunca que só em mim”, penso que você
já-de-logo poderia também pensar assim, e então me antecipo, porque assim você talvez
conclua, mais cedo ou menos tarde, que não teria com que comparar para ir pondo
parâmetro no do-quê-fazer-melhor-com-elas — mãos de vontadear e olhar dentro.
Os
pés, firmes e serenos como se fossem violão cantando violetas contra todos os dragões do mundo, ah, os pés... eles entrariam sempre descalços
em casa. Mania-minha de barrar na porta as sujeirices que a gente desanda a
trazer calçadas quando em trajetos de dias em dias...
Você,
com altura um pouco mais para alta que para baixa, pendendo — até te confesso — para aquela estatura mais
bonita de todas, mas, enfins, preciso deixar transparente que não te darei explicação mais-nenhuma para essa
predileção, e prosseguimos conversadas!
Pés,
mãos, braços, pernas, pescoço, olhos, nariz, boca, orelhas, sobrancelhas e
cabelos indo e vindo... Tudo fazendo a gente ficar parada, contemplando e
vontadeando quase que entranhar, sabe? Intencionando prazerar abraço gostoso,
imaginando ou realizando você na (imaginação da) gente. Essas partes e todas as
outras, eu as delineio muito bem arranjadas para que eu mesma me reconheça
nelas algum dia. E para que eu mesma vá regozijo-enorme-de-tocar, com os olhos
e o coração, nelas num futuro presente.
E
é porque eu te faço tal qual te vejo, dorminhocando e por sonhos, um dia. Os
dias todos. São tantas-tantas as luzes-de-sonhar... Mas então, mesmo dizendo de
você em partes todas essas, me dou conta de que, ah... não me meto nem por um
segundozinho a te pôr em linha de elaboração, balanceando ou pedindo mais-dentro. Prefiro te ver
flautuando, do seu jeito. Mas mesmo se eu tiver que para sempre ficar em longe? Aí, não. Sou dessas imperfeituras da vida que gostam do estar-com. E
então eu não me desaproximarei de mansinho, ou sem alarde-de-chororôs. Ainda assim, prometo as nunca machucações em você,
sendo eu completamente capaz do desressentir.
Em caso de
luta com qualquer decisão de você sobre mim, seria uma luta em que eu sequer tomaria partido. Faço parte das vencidas na vida.
Penso que, fosse para requerer-excessivo ou brigar-para-você-ficar, assaz-assim perderia toda
a graça. E a preciosidade. Nem ninguém, fim das contas, penso-cá, em caso de necessidade
de luta, almejando a qualquer ganhação em relação a você, ninguém nem-não conseguiria. Porque de repente eu antecipo que você não quer ser feita de nenhuma condição de vida que não seja estar-sempre-ganhando. Mesmo não estando. E eu, por lado outro, quando confecciono-imaginando você, vejo que te faço na vontade de nem-nunca te perder...
Perfeição de imaginatura. Livre-leve-love.
ReplyDeleteEu já tinha lido antes... há um tempo... Hoje li com outros olhos. E que coisa -linda este teu imaginaturar.
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