imaginatura de flor quando...



Hiroki Tamaki & S.M.T.  |  “Kansokyoku I”, from Time Paradox (1975)

dias todos, tantos
muitas janelas de olhar e não olhar dentro
em ruas, que-elas mesmas assim, estranhando
as coisas de pegar com dedos até aturdidos,
de canseira, descoragens, fraturas-tempo

de-ali, dia algum, tendo destino já em bastantes sem,
menino de mãos bem judiadinhas, Josué,
se madruga de um esperançar tão esquisito...
sonha que vai pisando chão de asfalto cinza-quentoso
e que onde pé passa vai por muito se crescendo
e se crescendo de flor chamada cachoeirar

outro instante, num zás!, cisma que vê através
de janela por onde os cajás-manga
estão e não estão, em arvorecendo, voltando se-sempre
que serenasse a rigidez dos dias
todos, tantos e tão mesmos
de escassos avessos, aquelas sonoras
e prosaicas imagens de ser e não ser...

tremeluzindo, por decerto, o menino estivesse
pois-que Avó zanga com ele:
“e isso é lá coisa que se pense, Josué?
vê se não trambaleia o juízo, criatura!”
mas se ele até-então sente um-algum desatino...
“é que as coisas de sonhar fazendo, vó,
se vão sempre em ritmo tão-bem diferente,
e é tanto-mais simples escorregar pra dentro delas...”

ali vó fez que sim, desconsentir é que ela não ia,
Josué parecendo até que desasfaltava mesmo
o chão com flor, em se deslumbrando, então pra quê
que Avó desfalaria o sonho dele tanto assim?
por motivo também, levava em conta, do dia que já chamava
pros de fazer, em comparecimentos, desvanescências

pois Josué punha-se dentro daquela camisetinha gasta
dava dois goles no leite quente, mais isso
e outro aquilo, e enfim corria desvairando, pululava
de toda a parte que se via, lá-ele
contando as janelas, olhando de pra dentro delas,
a cachoeirar...


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