Deu uma ânsia enorme de vômito, um gosto sem-graça no canto esquerdo da boca, as mãos por tremer, e o estômago ziguezagueante. Esta a primeira sensação de quando foi expulsa de Solaris: os pés, variando, foram dar primeiro em casa - tudo fechado para impedir entrada da poeira seca e, na sala, os papéis remexidos da madrugada anterior. Os olhinhos, miúdos e por cair, atingiam a extremidade do quarto de dormir e de trabalhar: miragem das promessas e realizações poucas de outrora.
Expulsa de Solaris significava, antes de tudo, impedimento. De fala. De convivência. De contemplação. Da morosidade necessária ao estado de tédio. De sair em viagem de férias - não tinha férias nem cabedal para ir ter com seu arlequim encantado nos confins de um entre-lugar qualquer. Impedimento também de receber no fim do mês o merecido pelo trabalho entregue ao meio-patrão - o não-patrão. De ir sonhando, mesmo que às avessas, com a não-distância a percorrer de coletivo, de fora a fora, conforme a necesidade. Banimento. De ouvir a voz dos que lhe admiravam a sutileza ou a covardia. De convencer os seus da brutalidade do silêncio e da devassidão da frase-feita.
Expulsa de Solaris oficialmente, e com ares oficiosos, no dia 2 de dezembro de 2008. Depois disso, nada além dos delírios matinais: "o céu fica amarelo e fosco quando a gente olha e vê pessoas em contorno". Expulsa, Melinda decidiu expulsar. Vomitava, todos os dias, coelhos. Pardos, negros, rosados, incolores, multiformes, quase sempre na surdina. Costumava guardá-los para ninguém. Dia desses fez faxina e mandou todos embora, de vez só. Deu a eles o de comer e os expulsou de casa. Quis ficar sozinha. E ficou, por tempo que não soube medir. Mas eis que os bichinhos lhe faziam falta: surpreendeu-se, dia outro, pensando neles, calculando-os, conjeturando de voltarem. Não voltariam; foram ofertados a quem os caluniasse, desgostasse, acolhesse, amasse ou simplesmente lhes gritasse maldizeres.
Vem agora Melinda pelas colunas-postagens deste blog - que em tudo lhe é solidário, cedendo-lhe espaço - a vociferar os seus dissabores, expulsando de novo os bichinhos. E é por aqui que se terá notícia, quem sabe frequente, ou quando a terceira pessoa resolver postar algumas melindices, da incrível saga de Melinda, personagem anônima e como outra qualquer, que não tem sempre relato a fazer. Vai só deixando-se segredar nas peripécias dos seus bichinhos, que perpassam-invadindo o seu viramundo...
Oi, Carol,
ReplyDeletegostei muito do seu espaço! Tanto os textos em Português como os em Inglês são muito interessantes. Gostei particularmente desse aqui, em que a Literatura e a Internet são vistas como terapias, ferramentas de reflexão e libertação por meio da tradução do estado de espírito. Essa postagem foi muito bem escrita, parabéns =)
Até logo!