sua nota (de)(s)amor




suas e duzentas e quarenta e nove asperezas de desadocicar sabores mel
e (as)sim eu fico de miragens à flor da pele, descalça fodida em rasgos
sensíveis são, afinal, todas as horas de perceber
que a história do outro o sorriso a mágoa o rancor até as cutículas
e ter-jeitos de adorar sofrer sentir sede dores e dedos e mais
o diabo-a-quatro de purpúreas verdes cruas verdades e descalabros
do outro despertam infinitas circunstâncias a mais,
muito mais do que qualquer que seja das minhas qualidades ou tolices:
“ah, menina, o que eu mais quero enfim desvê de ver só você
é um tão muito flertar e beber e me atracar da saliva de pernas abertas ao outro
e servir de respiração a todos os que terão fome de mim em gozo”

eu não, eu tinha palavras hoje se contorcendo pra contar só pra você
da imensidade e das eufóricas e incontroláveis miragens
à flor da pele que me transmutavam a caminho de casa,
os carros no meio da avenida pedestres pés e sonhos talvez só indo,
e eu na boba expectativa de estar casa cama letra dedos dizendo sobre
como seria, aliás, te levar pra conhecer num primeiro dia uma das minhas
mais amorosas estrelícias, de madrugando-se,
pequenina flor do ano que, se vista do mirante de onde
daqui a três meses já se terão passado muitas eternidades
de prelúdios, como este, terminaria recendendo a celebrações, que... se...

ah, elas, as estórias e estrelícias e ternuras, eram todas hoje suas
fiquei que não me suportava, enquanto corria de lado a outro na rua,
de explosões pra chegar em casa destrancar o céu a chave o tapete de entrada
da não rotina que seria a nossa, com estrelas luas luísas inaugurando a vinda
mas que agora despenca e que porra é essa? nem sei mais desreconheço sendo

sete e trinta e três da noite e ainda me faço de embrulho
a rotineiras solas de sapatos que me dispersam a coragem o som
a vontade pra tão apenas desdizer aqui no imenso vazio que retorna
de um quarto chagall de modiglianis elásticos com que pelo menos conter
o grito renhido de adeuses e(m) ágapes agonias e eu de novo descalça fodida
em conjeturas ridículas projeções, uma talvez certeza, acho que nem seremos
e desiludo enfim que no ínterim da história você nem-não estará


[Study for the curtain of The Firebird by Stravinsky: “The Enchanted Forest” (1945), por Marc Chagall
Música de Baden Powell, “Prelude in A Minor”]


Comments

  1. É isto o que há de ser o tal POEMAVIVO, Carolina?

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  2. E que quem sabe um dia, Germano, (mais) (ou menos) (quem diz?) (quem vê?) vivendo seja! Pr'além. Sim, poemavivo! Estejando-nos mais só de amor. *-*

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  3. Nem tão longe: um rasgo na floresta. Clarão. Sou árvore e você me podou. Renasço na copa de teu verso. Que coisa mais bela não tem. Ai, ai, você.

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  4. As minhas estrelícias, te digo então, serão de sempre pra te renascer universo inteiro de belezas espatifando qualquer um que se atreva a te desviver. Pois o belo, a esperança de ele nunca se escapulir do poema não sou eu, é você.

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  5. Eu amo a tua grandeza, C.. Por ela ser real, palpável. Este me fisgou. Já passo, pois, de árvore em peixe. Eu nado. O abisso: você.

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